[GUEST POST] Dia Internacional Sem Dieta

[Trigger Warning (aviso de conteúdo possivelmente incômodo): relato sobre distúrbios alimentares, bullying, gordofobia.]

É de se esperar que muita gente esteja feliz com o fato de hoje ser o Dia Internacional Sem Dieta. Em partes, também estou, em especial por saber que existem pessoas que se importam com essa causa o suficiente para reservar um dia só pra ela. Claro que o meu ideal seria o de que todo dia fosse para questionarmos o que estamos fazendo com nossos corpos e nossas mentes, ou, melhor ainda, o que nos ensinam a fazer conosco. Mas não é assim e, mesmo hoje, existem milhões de pessoas que vão chorar ao se olhar no espelho, e outras tantas que vão pular uma refeição. Meu coração -como sobrevivente de uma infância traumática e um transtorno alimentar -está com essas pessoas.

A minha história não é especial. Eu era uma criança que não era magra. Eu não era gorda, mas eu não me lembro de jamais me sentir confortável na minha própria pele, sempre me comparando com outras meninas, sempre observando o tamanho das partes do corpo delas e o tamanho das minhas. Mas num padrão de beleza facista, (que já atingia crianças, vejam só) eu era gorda. Eu era um “caminhão da Vale”. Eu era uma baleia, porca (ou, em inglês, “pig”, como a galera do curso de inglês aprendeu a me chamar), nojenta. Eu nunca ia ter um namorado. Eu nunca iria poder usar as roupas que queria. Minha mãe me disse, aos meus 10 anos, que se eu tivesse 15, ela diria que eu estava grávida (por causa da barriga). Me ensinaram a çontar calorias bem novinha, e comida virou um sinônimo de culpa para mim. Parece horrível para quem não viveu isso… e, se você que está lendo, é uma das pessoas que nunca viveu esse pesadelo (quando sequer contei tudo), eu sinto informar que não sou especial por isso. Existem muitas pessoas como eu por aí, que ouviram as mesma coisas, ou muito pior. Somos muitxs, infelizmente.
Eu não me lembro da primeira vez que comecei com comportamentos bulímicos, mas eu era nova demais para sequer estar preocupada com algo além de brincar e estudar. acho que sequer havia menstruado. Não quero entrar em detalhes sobre isso, mas o que importa é que eu sobrevivi. Não falo isso querendo dizer que sou alguém que quase morreu por causa desse transtorno alimentar e que tem uma foto de “antes” e “depois”. Não tenho nada disso, não é a minha experiência.
O que eu tenho da minha vida, como alguém que foi vítima de um padrão de beleza que me sufocou e me drenou, é que eu estou aqui, nesse 6 de Maio, Dia Internacional Sem Dieta. E que estarei aqui a amanhã, com as mesmas dores de quando eu tinha 13 anos e chorava na frente do espelho, porque o mundo não me permite deixar pra trás a insegurança de não ser uma mulher de revista, de não ser a minha prima, a minha colega de sala… de não ser qualquer outra pessoa que não seja a baleia da 4ª série, ou do 2º período da faculdade. De não ser, enfim, magra.
Aprendi com o feminismo e outras lutas que não é normal viver o que vivemos. Que não é justo e que temos o direito de dizer “não” a padrões de beleza que nos oprimem e magoam. Eu decidi dizer “não”, mas não foi há um ano e meio, quando procurei ajuda médica, e nem hoje que me libertei. Talvez eu nunca me liberte, mas eu espero que outras pessoas não ouçam que ninguém vai amá-las por serem gordas. Eu espero que comprar um jeans não seja doloroso, e que elas repitam o almoço sem medo.
Acredito que isso seja possível. Um dia de cada vez. Uma dieta a menos de cada vez.
Nem sempre damos conta de lutar porque somos humanos. Existem dias em que um discurso body-positive não me traz nada de bom, porque minhas cicatrizes estão abertas demais, e esses são dias difíceis. E está tudo bem em ter dias assim, porque o apoio não é muito grande. Mas existem outros dias em que ver a confiança e a luta de outras pessoas – em especial outras mulheres – me dá força e um bocado de esperança. Espero que, dia a após dia, e, aos trancos e barrancos, a minha experiência e a de tanta gente seja, de fato, passado.
(Essa é só a minha experiência e como decidi encarar essa situação.)

por Carol Marques Lage

contato: ponycase@gmail.com

http://www.facebook.com/carol.marques.meow

[GUEST POST] Isto não é uma opinião

Amanhã, dia 21 de março, é o Dia Internacional contra a Discriminação Racial. Tendo em vista os recentes acontecimentos, trazemos o texto do Felipe Moreira:

Gostaria de trazer uma reflexão acerca de episódios, a princípio desconexos, mas que, se bem sucedida esta tentativa, poderão ser unidos sob um raciocínio comum: o do bem estar pessoal e social. Falo dos episódios recentes sobre o trote racista praticado na UFMG (informações aqui) , a discussão em torno da propaganda de certo sabão em pó, feita no dia internacional da mulher e do shampoo de uma marca avícola qualquer, divulgada recentemente. Tudo isto regado à boa e velha crítica descabida de que “as pessoas não estão relaxadas o suficiente” ou “à toas demais” e por isso perseguem uma espécie de política do correto (juntamente com o “ativismo de sofá”) infértil, mais estética do que prática. Uma grande briga neste sentido tem sido a questão do stand up e suas “piadas” de cunho preconceituoso e como a sociedade civil tem respondido à isso (um caso específico pode ser discutido neste link). Por trás de todos estes casos, jaz a polêmica do humor, da comédia, da ironia e, de fato, quais seriam seus limites e possibilidades. Não estou aqui para reabilitar o humor de ninguém nem apontar quais variáveis você pode utilizar para “ser engraçado” para alguém, mas justamente pra tentar mostrar que existe um alvo nas piadas, ninguém conta algo engraçado, “causos” ou histórias, sem ter personagens e um público alvo… senão ficaríamos sozinhos em casa contando piada para o espelho, não é mesmo? Há uma atitude de defesa frente à piadas que não dão certo, como no caso do trote racista. É a ideia de que “foi só uma brincadeira” agindo como escudo pra nos redimir da auto-reflexão, afinal, ser introspectivo e se reavaliar constantemente dá muita dor de cabeça. É o mesmo caso quando achamos que uma pessoa se ofender por uma propaganda ‘x’ é exagero demais, não havia nada de errado nela, é hipérbole, isso não é machismo/sexismo. Mas, para aquela pessoa, foi. Do mesmo jeito que alguém se ofendeu (junto com toda uma etnia) com um trote universitário. Tal como um gênero se sentiu ofendido por declarações e piadas de certo humorista. Ou seja, precisamos sair dessa atitude nossa de defesa e começar a pensar em quem atingimos quando proferimos certos discursos, pois piadas e brincadeiras também são discursos. Somos responsáveis pelo que colocamos no mundo e palavras tem poder, precisamos reconhecer isso. Não é possível apagar o que foi dito, principalmente da cabeça de quem lesamos. E mais importante, não podemos deslegitimar a luta de nenhuma pessoa, grupo ou segmento com argumentos rasos como “estão procurando pelo em ovo” ou que é “falta de louça pra lavar”, pois essas afirmações tem origens nefastas e fascistas. Desautorizam e retiram a autonomia das pessoas para decidir o que é importante para elas e pelo que é importante lutar já que define uma série de coisas que valem a pena de se correr atrás e outras que não. Argumentos assim definem agendas autoritárias. Não existe diálogo em cenários ditatoriais e, felizmente, vivemos numa sociedade plural onde existem pessoas lutando desde a abolição das práticas manicomiais à um apelo por maior ética na mídia: lidemos com isso. Resumindo, precisamos pensar um pouco mais antes de emitir opiniões, ninguém é obrigado a ser esclarecido o tempo inteiro e ter habilidade para falar de qualquer assunto. Podemos nos informar, repensar, pensar duas vezes antes de jogar no mundo nossas palavras. E principalmente quando não só estamos por fora de algum assunto mas também não fazemos parte do universo das pessoas protagonistas ou alvos deste assunto. Precisamos ter em mente que nenhum montante de informação vai nos colocar no salto-alto de outra pessoa, que precisamos ter humildade pra reconhecer nosso contexto específico de vida e possibilidades, nossos privilégios. Não, o mundo não está ficando sem graça e não, o humor não vai morrer. As coisas mudam, melhoram, evoluem… não estamos policiando ninguém, só exigindo qualidade sem coerção.

Alguns links interessantes para refletir:

Documentário “O riso dos outros”: http://www.youtube.com/watch?v=PRQ1LuBWoLg

Sobre a questão dos privilégios: http://www.catolicas.org.br/noticias/conteudo.asp?cod=3775

Saindo de si: http://tamarafreire.wordpress.com/2012/08/15/essa-conversa-nao-e-sobre-voces/

Dia Internacional da Mulher

É amplamente conhecido que dia 8 de março é o dia internacional da mulher. O que talvez não seja tão compreendido é o significado desta data. Eu, Felipe, me proponho a fazer algumas considerações que espero sejam úteis para ajudar os homens a entenderem alguns aspectos desta data.

O primeiro grande questionamento é: quais são as mulheres que são prestigiadas pela data? Creio fortemente que o 8 de março deva ser um dia em que nos questionamos as construções dos gêneros; quem é mulher? O que torna uma pessoa uma mulher? Determinadas características tornam alguém mais mulher que outras? Talvez os questionamentos pareçam absurdos se postos assim, porém surgem de diversas discussões e, inclusive, de homenagens ao dia da mulher.
A categoria de mulher (assim como a de qualquer gênero) não pode ser restringida por características físicas, psicológicas ou biológicas se desejar ser tida como universal, A definição de mulher não pode apagar mulheres negras, proletárias, trans* ou com deficiência. Esta discussão é tida em maior profundidade no primeiro capítulo de Problemas de gênero da Judith Butler.

Dia 8 de março: não dê bombom, nem florzinha. Dê respeito.

O segundo grande questionamento é: esta noção de presentear e parabenizar mulheres no dia da mulher apenas reforça a necessidade de uma data política para discutirmos gênero na sociedade. Apesar de que o nome talvez engane a primeira vista o dia internacional da mulher é uma data sobre mulheres, homens e pessoas que se identificam fora deste binário. É uma data para questionarmos os signos que associamos a cada um destes gêneros, é uma data para questionarmos os papeis de gênero, é uma data para lutarmos todos em uma só voz pela equidade.
Dar presentes ou parabéns não apenas tira o foco da luta que ainda temos a travar, como acaba, ironicamente, reforçando diversos padrões machistas. As supostas homenagens servem para objetificar mulheres, para definir padrões de feminilidade, que excluem e marginalizam cada vez mais as mulheres que não estão inclusas nestes padrões. As mulheres que se contentam com presentes, ou que são levadas a crer que esta é a proposta da data, acabam não se impondo e lutando por direitos iguais.

O terceiro grande questionamento é:  não adianta protestar e dizer que luta junto no 8 de março e ignorar a luta pelo restante do ano ou não rever suas próprias atitudes. Nas lutas das minorias vejo muitas pessoas dizendo que apoiam a luta por direitos iguais, mas como se em menção a algum direito subjetivo, que apenas faz sentido (e é considerado um direito) na mente desta minoria. Estas pessoas que se dizem aliadas convenientemente parecem ignorar que a mudança acontece a partir de pequenos gestos cotidianos e que todo mundo faz parte da construção de um mundo melhor.
Talvez estas pessoas acreditem que a igualdade só é legítima se assegurada por lei, que esta luta por direitos seja judicial. As leis se fazem necessárias ao institucionalizar um comportamento que não está internalizado no cotidiano das pessoas. Ou seja, apesar de ter uma demanda contemplada por uma lei ser algo positivo, esta só se faz necessária pois as pessoas não questionam seus próprios atos.

O dia da mulher, por seu caráter político, não deveria ser restringido a apenas um dia do ano. A luta contra as diversas opressões que nos cercam; que se não nos afetam diretamente, afetam as pessoas ao nosso redor; precisa ser todos os dias. Não podemos nos calar frente a qualquer tipo de discriminação, devemos nos tornar nós mesmos, em corpo e alma, verdadeiros campos de batalha por um mundo melhor.

Heteronormatividade?

Essa imagem apareceu na minha timeline sendo elogiada por supostamente ir contra a heteronormatividade das propagandas de camisinha. Duas meninas cis brancas de beleza padrão e devidamente photoshopadas brincando com chantilly no sofá. Duas meninas de aparência heteronormativa e cisnormativa.

Problemas: a Prudence (e acho que todas as outras marcas de camisinha no Brasil) É uma empresa heteronormativa. Ou no mínimo falocêntrica. Ela vende preservativos feitos pra usar com pênis. Mesmo a camisinha feminina, que é bem difícil de encontrar por aí, não serve pra sexo oral em mulheres cisgêneras. A Prudence não vende Dental Dams e não faz propaganda pras outras letras invisibilizadas de lGbt*.

Tendo isso em vista, fica claro o público alvo das campanhas da Prudence: homens cis. Vamos combinar que a gente ainda tá longe de achar normal e encorajar meninas a comprar camisinha (que mulher nunca passou constrangimento na farmácia ou no mercado tentando comprar camisinha?), e que a sexualidade das mulheres é geralmente ignorada pelo marketing. O foco é outro. Propagandas pra mulheres supõem que sejamos todas heterossexuais e queiramos relacionamentos sérios, e atacam a auto estima: é sempre algo do tipo “Se você não comprar nosso produto, nunca vai encontrar o príncipe encantado. Ou pior: vai encontrar, e não vai estar preparada. Depilada, maquiada, magra, bem vestida, de cabelos devidamente alisados, penteados, clareados. E ele não vai olhar pra você.”

A foto pode não exibir uma das características típicas de pornô lésbico feito pra homens hétero – as meninas olhando pra câmera convidativamente – mas o resto está todo ali compondo a fantasia masculina, e os comentários na foto evidenciam isso: “O la em casa” “por mim legal! Ainda mais com essas gatas show de bola!” “sendo nesse sofá qualquer sexta feira fica ótima” “só faltou eu ai noi meio néh gatinhas!!” “Vou lamber vcs duas.” (tudo sic), todos feitos por homens. Eles eram o público alvo (o que uma lésbica cisgênera faria com uma camisinha pra pênis ali naquele contexto?) e foram agradados pela imagem. Ponto pra Prudence.

Enquanto respeitar a sexualidade gay é interessante para a empresa, já que pode ser usada pra vender camisinhas pra homens, a sexualidade lésbica é desrespeitada rotineiramente pelo mesmo motivo: vender camisinhas pra homens. Essa imagem da Prudence é só mais um exemplo da fetichização da identidade lésbica promovida pela mídia e pela publicidade pra vender algo pra homens.

A quebra da heteronormatividade envolve muito mais do que simplesmente retratar casais homossexuais. É necessário desconstruir toda a estética heterossexista que, como evidenciam os comentários, apela tanto aos homens heterossexuais e à heterossexualidade que acaba por construir mais um espaço que as lésbicas não se sentem confortáveis para ocupar. Não é só por retratar supostas lésbicas que a campanha deixa de ser heteronormativa.

Pena de morte para estupro na Índia – De qual lado você está?

Ontem, dia 4/2/2013, foi aprovada pelo presidente da Índia uma nova lei para punição de crimes de estupro, mais severa, que prevê a pena de morte em determinadas situações. Nós do Eu Que Sou Intolerante nos posicionamos contra a aplicação da pena de morte em qualquer situação, porém consideramos a lei um avanço nos direitos das mulheres na Índia. Entendemos que o Estado indiano está legitimando a luta anti-estupro, equiparando ao homicídio “mais raro dos raros” [1].
Nas últimas semanas foram notificados casos de estupros coletivos na Índia [2], em lugares públicos, com omissão de socorro e que, eventualmente, terminaram com a morte das vítimas. Mortes tanto causadas pelas diversas agressões que estas pessoas sofreram, quanto também pela enorme pressão social ao serem culpabilizadas pelos crimes dos quais foram vítimas. Como forma de controlar essa epidemia de estupros na Índia, acreditamos, sim, que a pena de morte possa ser uma ferramenta de controle, considerando que esta já é uma punição corrente no país.
O foco da discussão não deve ser a pena de morte em si, mas sim a equiparação da punição dos crimes de estupro que resultem em morte com a punição prevista para os crimes de homicídio. Este é o fato relevante neste momento, e ele sinaliza um avanço na luta pelos direitos das mulheres indianas. Atentando-se ao contexto, a lei não pode ser considerada um retrocesso nos direitos humanos, pois em nada muda a situação no país: JÁ EXISTE PENA DE MORTE. A discussão sobre a legitimidade da pena capital foge ao escopo desse debate.
Consideramos que a preservação da vida de mulheres [3], em condições dignas e respeitosas, é mais emergencial que a ressocialização e manutenção da vida dxs criminosxs que cometem tais crimes em condições tão chocantes quanto as apresentadas nestes últimos casos. Não negamos a importância de políticas públicas de ressocialização e educação, entretanto julgamos estas secundárias à uma solução emergencial a esta barbárie.
Acreditamos que uma das maiores falhas da pena de morte seja a dificuldade de realização de julgamentos precisos, o que pode ocasionar na chance de que o Estado tire uma vida inocente. Entretanto em casos de estupro a identificação dx criminosx pode ser feita com grande confiabilidade, garantindo assim que apenas as pessoas que cometeram o crime possam pagar por este. Somos contra a aplicação da lei em casos em que haja dúvidas quanto ao reconhecimento das pessoas envolvidas.

Considerações:
A nova lei surge como resposta a crimes brutais ocorridos recentemente que chocaram a Índia e a comunidade internacional, suscitando debates sobre a impunidade dos crimes de estupro e necessidade de uma legislação mais rígida. A lei prevê aumento da pena, que atualmente estipula de 7 a 10 anos de encarceramento, para de 20 anos à prisão perpétua, com possibilidade de pena de morte nos casos em que a vítima venha a óbito ou entre em estado de coma ou vegetativo. Conforme a lei atual, ainda que o estupro resulte na morte da vítima, ainda aplica-se a pena de 7 a 10 anos. Para aplicação da pena capital, o estuprador precisa ser preso sob acusação de homicídio, e não de estupro.
A nova lei não considera como crime o estupro dentro do casamento e não aborda casos de violência sexual cometida por soldados em zonas de conflito.
Não são previstas na nova lei medidas de amparo às vítimas, tais como auxílio psicológico e criação de Delegacias da Mulher.
A lei não aborda em nenhum momento o caráter estrutural da violência contra as mulheres, não prevê políticas públicas preventivas, não discute a necessidade da reforma das instituições do Estado para preservar a dignidade da mulher, uma vez que as punições previstas pela lei ainda estão sujeitas ao crivo do judiciário, que, como reflexo da sociedade indiana, possivelmente continuará a não tratar estupros com a seriedade devida, o que pode tornar a nova lei praticamente inefetiva.

Dado o exposto podemos dizer que consideramos, com algum pesar, como vitória que estupros comecem a ser encarado com alguma seriedade, sendo passível pena de morte (a) nos casos de estupro (b) da Índia como (c) ampliação de uma punição já aplicada no país (d) em caráter emergencial, (e) nos casos em que x culpadx é claramente reconhecidx, (f) como contingente da epidemia que assola o país. Não concordamos com a pena de morte em casos em que estejam ausentes quaisquer uma dessas variáveis.
Muitas pessoas receberam a notícia positivamente. Algumas aplaudiram a aplicação da pena de morte, outras consideram até mesmo essa sentença insuficiente para estupradores. Essas manifestações inflamadas dizem mais respeito à sensação de que algo está sendo feito pelas mulheres indianas do que sobre a aceitação da pena de morte em si. Juntxs, todxs desejamos uma sociedade igualitária e menos violenta, com o fim dos crimes brutais noticiados recentemente. Juntxs comemoramos medidas que nos aproximam da igualdade ao promoverem um mínimo de dignidade para as mulheres, ainda que emergenciais, desesperadas e imediatistas: afinal, a Índia está em estado de emergência, as mulheres estão desesperadas e precisam de soluções imediatas.

Nós consideramos o crime de estupro extremamente sério e acreditamos que o fim da cultura de estupro é uma demanda feminista de extrema importância, entretanto não acreditamos que uma demanda de direitos humanos seja superior a outra. Desta forma convidamos Thaís Campolina, do Ativismo de Sofá, para fazer um contraponto a opinião aqui exposta e ajudar a fomentar discussões sobre o assunto.

“A situação dos estupros na Índia é alarmante, mas é necessário lembrar que permitir a pena de morte não impede que os crimes continuem a ocorrer. Com ou sem pena de morte, os estupros continuarão acontecendo. E além disso, devida a falta de preparo para o Estado proteger, acolher e lidar com as vítimas do crime de estupro,  a cultura machista e misógina e também o próprio funcionamento do sistema judiciário do país é provável que não chegue a haver condenações que não sejam a dos casos que sejam de conhecimento internacional.  E caso haja condenações, além dessas, é provável que muitas delas sejam motivadas por outros preconceitos.

A pena de morte em casos de estupro na Índia não protegerá essas mulheres, porque crimes contra mulheres costumam sair impunes por causa de vários fatores, como a culpabilização da vítima, a negligência do Estado, a falta de treinamento para o atendimento das vítimas e etc.

Minha oposição a essa lei não é motivada apenas por motivos ideológicos de não acreditar que o Estado possa ter legitimidade para matar seus cidadãos, mas principalmente porque é um devaneio acreditar que colocar a pena de morte como punição ao crime de estupro as mulheres deixarão de serem estupradas, porque mesmo existindo essa punição, a cultura do estupro e a impunidade sobrevivem.

É importante observar que a pena de morte para crimes comuns existe na Índia e que ampliar o alcance dessa punição para abranger também o crime de estupro é uma tentativa de dizer para o mundo que mulheres são gente.”

[1] Essa classificação é concedida após uma análise da brutalidade do crime, ou dos antecedentes criminais passados da pessoa que cometeu o crime.
[2] Algumas considerações em: Caso de estupro coletivo expõe falhas da Justiça da Índia
[3] Não acreditamos que mulheres sejam as únicas vítimas de estupro, entretanto estamos cientes de que estas estão muito mais suscetíveis que os homens.

Para entender melhor: Ativistas indianos pedem nova lei de estupro mais abrangente
Nova lei prevê pena de morte para estupradores na Índia
What India’s Working Women Say About Sexual Violence [em inglês]

Post escrito em conjuntos pelxs 2 autorxs do blog.

Batalhão dos caras legais

http://www.bulevoador.com.br/2013/01/evitando-o-estupro/

O texto parece bom, mas não li ainda por que pulei direto pros comentários. Explico: boa parte dos textos do tipo falam coisas que mulheres JÁ SABEM. Se o texto for ruim, do tipo que ensina o comprimento adequado de saia pra não ser estuprada, o patriarcado já nos ensinou muito bem, obrigada, e reforça isso o tempo todo através de nossos pais e nossas mães, nossxs professorxs, a mídia, a ficção, a moda, as conversas de boteco, as dicas dxs amigxs. Se o texto for bom, do tipo que ensina HOMENS a NÃO ESTUPRAREM, nós também sabemos, por que TODAS já passamos por essas situações, todas já tivemos nossas vozes silenciadas, nossa autonomia desautorizada e nossos corpos desrespeitados pelo direito (entitlement) masculino.

O que me interessa hoje em dia nesse tipo de texto é a resposta do público. O desculpismo masculino, a incrível capacidade de enxergar o comportamento padrão como exceção, não sabendo (não querendo) reconhecê-lo em si, a misoginia que escapa em cada comentário. A resposta a um texto sobre estupro escrito por uma MULHER, alguém que tem vasta experiência no assunto. Sim, só por ser mulher, infelizmente essa é a situação.

Por melhor que seja o texto, interessante mesmo é o sempre presente batalhão de caras legais que aparecem pra dizer que ‘não é bem assim, peraê’. Nessa hora, até a comunidade ateísta/humanista/racionalista/cientificista recorre ao ‘instinto natural do ser humano’ (que é homem, claro, já que humanidade é uma qualidade que, como mulheres, nos é negada), que responde inevitavelmente ao chamado daqueles nossos 2 cm a menos de vestido. É esse o desculpismo masculino, que delega pelo menos parte da culpa ao irresistível poder de sedução feminino (privilégio feminino! temos mais poder na sociedade por conta dele!). Que responsabiliza a tal má interpretação de nossas vontades à ausência de negações explícitas, em vez de responsabilizar os homens, que fazem o que querem mesmo na ausência de consentimento explícito. Que questiona o uso do termo ‘estupro’ quando ‘só’ ocorre sexo oral forçado, ou qualquer outro ato que não seja penetração vaginal. Que reclama da injustiça das falsas acusações de estupro (mais um privilégio feminino, as mulheres têm tantos!). Que vem lembrar que homens também são estuprados, e nós deveríamos lembrar deles. Que repete o cânone não beba/não mostre o corpo/não saia sozinha e faz a comparação com roubo e furto de carros ou outro bens (é só prudência! estamos falando em prevenção, afinal, não?), sem atentar que isso coloca as mulheres exatamente na mesma posição – a de bens de consumo – e nega a misoginia desse pensamento. Que reclama da generalização e vem lembrar que nem todos os homens são assim, na verdade, quase nenhum homem é assim. Que esquece que somos assediadas e estupradas mesmo de moletom e chinelo, descabeladas e com cara de sono às 8 da noite numa rodoviária à espera da carona:

Já aconteceu comigo. Passei pela desagradável experiência de ter um homem chacoalhando um maço de dinheiro na minha frente enquanto eu tentava entender o que ele dizia, o que era difícil por causa de sua embriaguez. Pensei que ele, que parecia ter lá seus 60 anos ou mais, estava perdido, desorientado e pedindo ajuda pra ir a algum lugar (por estar na rodoviária me senti razoavelmente segura pra permanecer ali e tentar ajudá-lo. Razoavelmente segura, por que quando escurece eu nunca me sinto segura de fato sem um homem ao lado). Quando finalmente consegui distinguir as palavras, ouvi algo como “pra onde você quiser, dinheiro nóis tem”. Saí de perto horrorizada, com alguma dificuldade (ele estava na minha frente e, apesar de não ter me segurado ou tocado em mim, se colocou de modo a impedir a minha passagem). Procurei com os olhos pela rodoviária por algum apoio, um policial, algum comerciante que ainda estivesse por ali, QUALQUER PESSOA (automaticamente os olhos procuram por um homem nessas horas, patriarcado nos ensinou muito bem que mulheres não são confiáveis e devemos ir aos homens por proteção). Percebi um homem sentado não muito longe, que tinha visto tudo acontecer e não tinha feito nada. Fez um sinal com a mão no assento ao lado ao dele, me chamando pra sentar ali perto. Ele tinha observado tudo e em nenhum momento se dirigiu ao homem que gritava comigo ou ao menos se levantou, estava só esperando a hora de se oferecer como meu salvador, esperando sabe-se lá o que em troca. Fugi dali com tanto medo dele quanto do outro homem, que ainda estava por perto por que ninguém o havia retirado. Era seu direito ocupar aquele espaço. Eu é que não deveria andar à noite desacompanhada.

O batalhão de caras legais que sempre aparece pra comentar textos sobre estupro é formado pelos mesmos caras legais que estavam presentes quando isso aconteceu comigo e seguiram seus caminhos como se nada estivesse acontecendo. Caras legais, tipo aqueles que acusam as vadias de colocá-los em sua friendzone. Mas não todas as mulheres, só as vadias. As vadias que os negam de seu direito inalienável ao sexo. E são vadias também as mulheres que fazem sexo. Caras legais que nunca estuprariam uma mulher, a menos que ela esteja sozinha, sozinha à noite, sozinha em público, sozinha em casa, com roupas curtas, bêbada, drogada, dançando, que seja bonita, muito feia, magra, gorda, branca, negra, que ouça punk, funk, pagode, sertanejo, que pegue carona, que ofereça carona, que ria, que não ria, que chore, que seja hétero, bissexual, lésbica, assexual, que seja pobre, rica, classe média, que diga não por que está fazendo doce, que diga sim por que foi coagida, que não diga nada, que não pare de falar, que seja de família, que seja de rua. Nesses casos não é estupro. Eles são caras legais.

[GUEST POST] Visibilidade trans* nos meios LGBT

Hoje, dia 29 de janeiro, é o Dia Nacional da Visibilidade Trans. A data foi criada para empoderar pessoas trans* e incentivar que as pessoas cis se eduquem sobre o assunto. Para ajudar na construção deste cenário trouxemos um texto escrito pelx Muni, do Minoria é a mãe, que fala sobre a falsa noção de inclusão das pessoas trans* no movimento dito LGBT.

“Lembro que ano passado, no dia da visibilidade trans*, eu li alguns posts sobre o assunto. Àquela altura, apesar de já ter enveredado pelo ativismo feminista e LGBT há algum tempo, eu não fazia ideia da fatia enorme de informação que me faltava. Eu tinha visto filmes e documentários, tinha lido pessoas falando sobre transexualidade, mas ainda não sabia exatamente o que eu estava ouvindo; só sabia que havia algo de errado com o que eu pensava antes e que lentamente minha cabeça estava se abrindo.

À medida que fui aprendendo mais sobre o que era, de fato, identidade de gênero, transexualidade e transgeneridade (que vai muito mais além do que a mídia gosta de nos vender) fui percebendo algo que, apesar de muito óbvio, não enxergamos muito claramente na maior parte do tempo: nós achamos que estamos incluindo pessoas trans* quando falamos a sigla LGBT, mas não estamos.

Apesar de agora eu estar falando mais especificamente da minha experiência com essa situação, acredito que ela não seja muito diferente da de muitos outros grupos. O que eu percebi foi que a falta de visibilidade das pessoas trans* em grupos LGBT vêm principalmente de dois motivos: desinteresse e falta de informação. O T vem junto com a sigla automaticamente, mas dificilmente alguém se lembra por que ele está lá, já que ser trans* não costuma ser a realidade da maioria dos membros. Isso não é uma exclusividade de grupos LGBT; todos nós em algum momento desconsideramos alguma coisa, ou nem sequer chegamos a pensar nela, só porque não nos atinge diretamente.

Já com a falta de informação o buraco é mais embaixo. O próprio fato de você não se interessar pelo assunto faz com que você também não se interesse em procurar saber mais sobre ele. É assim que, com tantas coisas na vida, apenas absorvemos a informação que nos rodeia e não procuramos entender de onde ela vem e se está realmente próxima da realidade. Absorvendo apenas o que os filmes mais mainstream mostram sobre transexualidade, por exemplo, pensamos que só existem mulheres trans* e que todas seguem a mesma narrativa. Pior ainda: absorvendo apenas as participações de personagens transexuais na maioria dos filmes ou programas, pensamos que é aceitável fazer piada e exotificar essas pessoas e seus corpos. Então é geralmente nesse contexto que encontramos boa parte das pessoas com quem nos relacionamos no dia a dia, façam elas parte de um grupo específico ou não.

Já sabemos o que é homofobia e lutamos contra ela – embora muitas vezes ignoramos as particularidades da lesbofobia e da bifobia. Mas ainda nos confundimos quando se fala em transfobia e cissexismo. Uma busca simples no Google pode te retornar um exemplo disso: na maioria das matérias e notícias sobre assassinatos de transexuais e travestis, além dos pronomes errados e da falta de respeito pelo nome social da vítima, o que mais se vê é a associação do fato com a homofobia. Ninguém fala em transfobia. Ninguém fala sobre o fato de uma mulher trans ser morta porque seu assassino descobriu que “ela não era mulher de verdade”, mas falam como se sempre se tratasse de um crime contra homens homossexuais vestidos de mulher.

Se você faz parte de um grupo LGBT que ainda não incluiu as necessidades específicas das pessoas trans* nas suas pautas, dê a sugestão. A letra T não está lá de enfeite. Se em todo grupo houvesse reuniões específicas para falar sobre transexualidade/transgeneridade, trocar ideias e esclarecer dúvidas, a desinformação espalhada por anos e anos de senso comum desapareceria mais rápido. Pode não resolver o problema, mas certamente ajuda muito simplesmente começar a pensar sobre o assunto e perceber que, afinal, mesmo que isso não lhe atinja diretamente, atinge muita gente e você também tem a capacidade de informar outras pessoas e mudar a sua realidade no que estiver ao seu alcance. Todos nós temos.”

“Você está no banheiro certo?” – Pessoas trans* e algumas perguntas que são feitas a elas.

Consciência Negra: O humor que mata

Começa hoje uma série de posts em homenagem ao dia da consciência negra. Que apesar do que escuta-se com alguma frequência o racismo existe e afeta cotidianamente a vida de todas as pessoas negras. Contrária à interpretação usualmente dada a declaração, cortada e fora de contexto, do Morgan Freeman, para acabar com o racismo devemos falar sobre ele e entender os principais mecanismo de sua atuação.

O texto escrito pelo Thiago Ribeiro, do blog Renova-Ação Negra, fala sobre a perpetuação de preconceitos através de quadros humorísticos e sua veiculação em todas as formas de mídia. Desvendando um pouco o racismo escondido em alguns discursos tidos como inofensivos.

“Entendam que pensar que um negro não denuncia crimes ou que não tem o direito de lutar em defesa de seus direitos, caracteriza racismo também. Será que isso não é óbvio?

Como se não bastassem todos os ataques, ofensas e ameaças, agora ainda aparecem algumas pessoas dispostas a, ainda, defender tais atitudes. Só quero deixar claro que não sou contra outras formas de pensar ou agir, mas sou contra sim toda e qualquer forma de preconceito e discriminação. A Constituição Federal me garante isso. Não entendo a razão pela qual, todas as vezes que um negro se levanta contra o racismo, muitas pessoas aparecem com os mesmos discursos, dizendo que todos somos iguais e que não há motivo para reclamar (…). Negar o racismo é a principal forma do RACISMO.”

Para ler o texto completo: O humor que mata
Se você não reconheceu o caso relatado por Thiago no post, maiores informações no post do Geledés:  A certeza da impunidade: Danilo Gentili oferece ‘bananas’ a internauta negro pelo Twitter

V de Vingança

A conspiração da pólvora foi uma tentativa malsucedida de explodir o parlamento inglês utilizando trinta e seis barris de pólvora, os quais seriam detonados pelo especialista em explosivos Guy Fawkes. A ação, planejada em maio de 1604 por John Grandt e Robert Catesby, pretendia reinstaurar o governo católico no país ao destituir o poder vigente que não concedia direitos iguais a católicos e protestantes. A data escolhida era exatamente o dia em que o rei Jaime I estaria presente para pronunciar a fala da abertura das atividades da House of Parliament, o 5 de novembro, esperando, num só golpe, por tudo pelos ares: o monarca e os parlamentares. No trono vacante imaginavam colocar a princesa Isabel, a filha católica do rei.

Foi a partir de 1607, um ano depois da execução e esquartejamento de Guy Fawkes e sete dos seus companheiros, ocorrida em 30 de janeiro de 1606, que a população de Londres começou a celebrar o fracasso do atentado a cada dia 5 de novembro por meio da Bonfire Night [ou Noite das Fogueiras], noite em que acendem fogueiras e lançam fogos de artifício para externar seu contentamento. Guy Fawkes tornou-se a representação simbólica do traidor, do Judas capaz de entregar a Grã-Bretanha às potências do catolicismo inimigo: a Espanha e o Papado.

Em “V de Vingança” (V for Vendetta, no original) Alan Moore e David Lloyd criam uma distopia onde o mundo está em recessão devido a uma guerra nuclear e um governo totalitário surge tomando conta da vida das pessoas. Nas obras do Alan Moore as histórias sempre se misturam e confundem, elementos de histórias diferentes se complementam e formam uma terceira história, totalmente diversa das que estavam sendo contadas. E na vida, que também imita a arte, podemos ver efeitos semelhantes onde várias histórias se encontram em curso, em ritmos diferentes e se cruzam e modificam, numa intrincada rede de fatos.

Codinome “V”, inspirado por Guy Fawkes e a conspiração da pólvora, resolve dar direitos iguais a todos os cidadãos, nem que pra isso ele precise usar a violência. Na tentativa de colocar o seu plano em ação ele conhece Evey Hammond, uma mulher que perdeu tudo que tinha nas mãos do governo. Para não deixá-la desprotegida V acaba a levando para sua casa, a Galeria das Sombras. Apesar de concordar com a causa Evey discorda dos métodos do mascarado e não quer estar associada a nenhuma morte. Esta divergência pode ser vista em um diálogo do filme:

Evey: Você tem algo a ver com isso?
V: Sim, fui eu que o matei.
Evey: Você… Ai meu deus.
V: Está com raiva?
Evey: Eu, com raiva? Você acabou de dizer que matou Lewis Prothero!
V: Quando eu matei o oficial que te atacou, você não reclamou.
Evey: O que?
V: Violência pode ser usada para o bem.
Evey: Do que está falando?
V: Justiça.
Evey: Ah, claro.
V: Não há julgamento neste país para homens como Prothero.
Evey: E você vai matar mais gente?
V: Sim.

V acredita no poder da violência como símbolo de enfrentamento de uma estrutura de sociedade da qual ele não concorda. Uma filosofia análoga a esta é a de que a não violência é patriarcal, que aceitar as agressões cotidianas de forma pacífica reforça as estruturas do sistema opressor.

Na sociedade distópica de “V de Vingança” as pessoas negras, judias e homossexuais são perseguidas, torturadas e encaminhadas a campos de readaptação onde são usadas para experimentos médicos. Uma encarcerada, Valerie, ciente de que não sobreviveria aos experimentos, escreve uma carta para manter intacto um pedaço que é só dela: a integridade. A cena em que Evey lê a carta, uma autobiografia, pode ser vista a seguir:

O roteiro do filme é adaptado dos quadrinhos para o cinema pelo casal de irmãos que dirigiu a trilogia Matrix, Andy e Lana Wachowski. Em 2012, Lana foi vencedora do Human Rights Campaign Visibility Award [Prêmio de Visibilidade da Campanha pelos Direitos Humanos] e nos conta em um discurso tão emocionante quanto a carta de Valerie um pouco da sua vida. A cerimônia pode ser vista, em inglês, a seguir:

Portanto, “lembrai, lembrai, o cinco de novembro: a pólvora, a traição e o ardil”, um dia simbólico para que nunca desistamos de lutar por aquilo que achamos que é certo.

Dia do Empoderamento

Segue um relato que mostra a importância de nos desvincularmos dos nossos preconceitos e ter sempre a mente aberta. O post é um apelo para termos mais aceitação do que é diferente sem invalidar automaticamente o que nos é desconhecido.

O preconceito acadêmico. Acho que esse não é lá muito comum, mas existe, te garanto!

Eu estudo em uma importante faculdade pública e faço um curso de exatas, por afinidade simples e pura. Mas sempre fui e sempre serei uma pessoa cheia de curiosidades. Por isso, tendo a estar sempre participando de eventos diversos. Desde de palestras sobre mecânica quântica relativísitca, até discussões sobre a influência do materialismo histórico no Brasil.

Entretanto, diferente do que se esperaria, o meio acadêmico é de um preconceito absurdo! O especialista de uma área nunca é bem visto em outras. E, apesar de humanóides sempre reclamarem dos ‘engenheiros alienados’ que vivem divulgando suas festas caríssimas e com música ruim, os próprios se esquecem de como estão continuamente propagando valores preconceituosos. Claro que existe o preconceito da outra via, dos exatóides com relação aos ‘pé-sujos’, mas a proposta deste texto é contar sobre histórias pessoais e esta é a minha.

Então, meus queridos colegas acadêmicos das mais diversas áreas, antes de entrar num ciclo sem fim de preconceito e distanciamento acadêmico, pergunte-se qual é o real sentido da academia e não entre no principal objetivo do capital na universidade: criar especialistas alienados.

Participe você também do Dia do Empoderamento!