Eu matei Jamey Rodemeyer

Você talvez nunca tenha ouvido falar em Jamey Rodemeyer, tudo bem, eu só vim a conhecer a história há pouco menos de um ano. A história pode ser lida neste post da Época. Jamey cometeu suicídio dia 18 de setembro de 2011, aos 14 anos.

Eu mato Rodemeyer todos os dias ao ser mais tolerante com homofobia e apagamento das identidades bi/pansexuais do que deveria. Eu mato Rodemeyer todos os dias ao não me assumir homossexual publicamente em todas as esferas da minha vida. Eu mato Rodemeyer todos os dias ao me dar ao luxo de me preservar, ao invés de discutir, contra-argumentar, reforçar meus argumentos fracos e insistir em trazer a mudança que eu tanto desejo.

A morte de um adolescente jovem e saudável igual Jamey nunca poderia ser considerada sem responsáveis. Ao permitirmos nos isentar de culpa em um episódio em que uma pessoa em estado vulnerável comete suicídio estamos tirando toda a humanidade de nossas vidas. Ao aceitarmos que assim é “como as coisas são” estamos negando a nossa parte inalienável de tentar tornar o mundo o lugar onde queremos viver. Acreditar não ter matado Jamey Rodemeyer é acreditar que estamos isentxs de responder pelas consequências de nossos atos, é não saber medir o poder dos próprios atos.

Jamey Rodemeyer foi obviamente morto por cada mensagem destrutiva deixada em seu blog. Parabéns se você não mandou nenhuma destas, mas a culpa ainda é sua por negligência e omissão. A culpa é de todxs nós, por termos permitido que a rede tenha se tornado esta terra de ninguém, onde consideramos aceitável a forma mais brutal de violência e agimos como se isto fosse natural. Como diria Desmond Tutu, a cada vez que nos mantemos neutros em uma situação de opressão estamos ao lado do opressor. E, portanto, toda vez que eu me calo estou matando novamente Jamey Rodemeyer.

A morte de Jamey é um alerta para nós. É um alerta do poder do nosso discurso omisso. É um alerta de como nossas ações demandam responsabilidades. É um alerta de como não podemos tolerar a intolerância se quisermos termos um pouco de paz de espírito.

Desculpa, Jamey. Eu teria te amado caso tivesse te conhecido em vida. Porém faço deste blog uma homenagem póstuma a sua dor, um sussurro em meio ao grito gigantesco do bullying homofóbico, e o faço por você.

(Ontem, dia 17 de maio, foi o Dia Internacional Contra a Homofobia. Em 17 de maio de 1990 a homossexualidade foi retirada da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS))

Deixe um comentário